O conhecimento milenar da medicina chinesa permitiu que a acupuntura chegasse ao Ocidente. Aqui, a técnica ganhou nova roupagem e tem eficácia comprovada pela neurociência. Por conta da correlação entre disfunções musculoesqueléticas e alterações no sistema nervoso central (SNC), a técnica é utilizada para alívio de dores e tensões. Até agora, os resultados são positivos.
Os benefícios da acupuntura, no entanto, não se resumem à analgesia. A fisioterapia utiliza o método para a funcionalidade do paciente. Além de desativar os pontos de gatilho de dor, as “agulhadas” melhoram a circulação, já que o organismo aumenta a irrigação sanguínea quando percebe um corpo estranho. Drenando a região, a acupuntura renova a atividade local, auxiliando no restabelecimento funcional.
A prática no Brasil é reconhecida como terapia desde 1995. Apesar de não ser amplamente difundida, está incorporada nas opções de tratamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem sido incorporada à rotina dos consultórios de fisioterapia.
Confira a seguir uma entrevista exclusiva com o fisioterapeuta Rafael Vercelino, especialista em acupuntura.
O empirismo da acupuntura tradicional chinesa não reduz a prática, que é muito rica e diversificada. Os estudos atuais apenas trazem um novo olhar para as necessidades do mundo moderno, um encontro entre o passado e o futuro. As pesquisas no campo da ciência básica e da clínica fortalecem a acupuntura como uma especialidade fisioterapêutica, pois tira-a do campo das ideias empíricas para comprovar os mecanismos neurofisiológicos de sua ação.
Ela responde muito bem como um recurso associado. É uma terapia passiva e tem tempo certo para ser aplicada. Em alguns momentos, pode ser a terapia principal, mas poderá ser adjuvante. Tendo esses fatores em mente sempre se alcançará bons resultados.
O questionamento ao paciente sobre qualidade de sono, sensibilidade à temperatura, odores e sabores. Os antigos praticantes faziam essas perguntas seguindo a racionalidade da medicina chinesa. No entanto, sabe-se que essas questões estão diretamente relacionadas à disfunção do sistema nervoso central, e que pode ser decorrente de algum acometimento neuromusculoesquelético, como a dor crônica. Por isso ainda funcionam.
A qualificação se dá por meio de cursos de pós-graduação lato sensu. Após a formação inicial, recomenda-se a realização de prova de especialista, realizada pela Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas Acupunturistas (Sobrafisa). A acupuntura exige estudo contínuo – eis a importância da atualização, não só em acupuntura, mas em anatomia, fisiologia e clínica fisioterapêutica. Isso é imprescindível para um profissional qualificado.
A racionalidade clínica, que busca alterações dos sistemas sensorial e motor, permanece a mesma na aplicação da acupuntura. O fisioterapeuta deve questionar o paciente sobre sua disfunção ou queixa principal, assim como buscar por sinais e sintomas relacionados. Por vezes, o paciente não faz correlação direta com determinados sintomas, como cervicalgia, cefaleia, cervicobraquialgia e sudorese nas mãos. Cabe lembrar que o fisioterapeuta deve estar preparado para perceber alterações autonômicas relacionadas às disfunções musculoesqueléticas – nesses casos podem ser sintomas ou mesmo sinais vasculares, tegumentares e viscerais, sempre com uma relação metamérica.